segunda-feira, 9 de maio de 2011

6- RESUMO CADERNO TEMÁTICO SEXUALIDADE

PRÁTICAS EDUCATIVAS E PREVENÇÃO DE HIV/AIDS:
   LIÇÕES APRENDIDAS  E DESAFIOS ATUAIS

       Mesmo após vinte anos de lutas, cheias de avanços e retrocessos em torno da temática AIDS, a busca por uma prevenção mais eficaz não se faz menor diante dos determinantes da vulnerabilidade que se faz presente nos contingentes populacionais como a pobreza, a exclusão de base racial, a rigidez de papéis e condutas nas relações de gênero; a intolerância à diversidade -especialmente de opção sexual-, o limitado diálogo com as novas gerações e a consequente incompreensão dos seus valores e projetos, o descaso com o bem estar das gerações mais idosas e a impressionante desintegração da sociedade civil no mundo globalizado. Esse é sem duvida um conjunto que envolvem um grande desafio: o de levar o conhecimento a todas as esferas sociais, delimitando sempre que possível espaços que envolvem os diferentes sujeitos.
      Neste contexto, reunindo o conhecimento e a técnica, chegou-se a terapia antiretroviral - o qual é resultado de muito estudo sobre os efeitos catastrófico do HIV sobre o organismo humano, um progresso que significa muito mais que tratar a AIDS como um caso de saúde publica, é uma possibilidade de tratamento que constitui uma forma de prevenção onde a palavra infecção associada a morte da lugar a  uma melhor qualidade de vida para os infectados.
No entanto,  ao falarmos da necessidade de controle da epidemia do HIV devemos não só nos referirmos a eficácia dos antiretrovirais ou de uma assistência à saúde de qualidade, mas principalmente da construção de uma cultura preventiva ainda mais universalizada, sustentada no bem comum e nos direitos humanos a fim de inserir a pessoa com HIV no conjunto da sociedade, por meio de práticas educativas, as quais devem ter por base um constante  exercício de sistematização e reflexão.
     Essas necessidades de mudanças no tratamento não só da doença mas principalmente do paciente como um ser pensante que é, ocorre durante  uma breve analise contextual, pois o que se percebe logo nos primeiros anos da epidemia, é que esta veio acompanhada de uma propaganda com base no terror do HIV que se instalou  na sociedade, o que não demorou para que se percebesse a sua ineficiência, pois afastava mais que aproximava as pessoas do problema, uma vez que as primeiras campanhas de prevenção, teriam muita dificuldade de criar identidades, associações ou motivações para que as pessoas mudassem seus comportamentos no momento das relações sexuais ou de fazer uso de drogas injetáveis.
    Mesmo com os avanços terapêuticos, ainda é muito grande o número de pessoas vivendo com Aids, o que torna ainda mais importante o desenvolvimento de trabalhos que que possibilitem a reflexão, interação no planejamento e construção por parte dos indivíduos pela qualidade e preservação da vida.
       Portanto, as relações entre teoria e prática possuem um importante desafio o qual ao ser estudado em sua totalidade, transforma-se em conhecimento podendo ainda assumir distintos graus de aplicabilidade e efetividade. No entanto, para alcançar o objetivo da prevenção, é preciso observar e refletir de forma ética sobre os critérios que se utiliza para definir x ou y como grupos de risco, bem como quais as implicações práticas dessa definição ou ainda quais as condições concretas –emocionais, morais, culturais, econômicas etc. – que os indivíduos têm para efetivamente adotar ou evitar comportamentos que o expõem ou o tornam vulnerável ao HIV, identificando e combatendo esta vulnerabilidade por meio dos Direitos Humanos, adotando ainda a redução de danos como atitude orientadora de nossas intervenções preventivas.
         Quando se fala em teoria e pratica é preciso ter por base a ideia de que “prevenção não se ensina” e que “todos aprende com todos”, faz-se necessário estabelecer uma relação tal entre educadores e educandos que permita a estes entrar efetivamente em contato com a questão em pauta, para que ambos possam apreender o que se trata, de fato, e o que deve e pode ser feito a respeito.  A partir dessa ideia as  estratégias de educação preventiva deve permear oficinas  e palestras que promovam atividades de reflexão e organização para tratar de questões que envolvam o posicionamento do individuo diante de uma tomada de decisão como, por exemplo, dizer não ao relacionamento sem o uso de camisinha, objetivando assim a construção de processos de emancipação de pessoas e grupos.
     Nesse processo, é importante ter em mente que aprendizado é encontro. Assim, o que caracteriza a educação é perceber e trabalhar com a efetiva presença de “um sujeito diante de outro sujeito”, onde a interação entre ambos torna-se um objeto de aprendizado, onde podem ser encontradas as mais ricas possibilidades de participar da construção de identidades e de fortalecer o poder transformador de indivíduos e grupos no que se refere à saúde.
      A caminhada ainda é longa e cheia de obstáculos, no entanto, sempre é hora buscar melhores condições de vida, de pensarmos nossas estratégias de prevenção indo alem dos “contextos de intersubjetividade”- os quais são geradores de vulnerabilidade, definindo-os de modo articulado,  a fim de que os contextos intersubjetivos tornem-se favoráveis à construção de respostas para a redução dessas vulnerabilidades que constitui um dos desafios para a prevenção. Deste modo, os espaços de tratamento também precisam ser pensados simultaneamente como espaços de prevenção. Talvez a estratégia mais sensível para detectar contextos vulnerabilizadores e possibilidades de construção de respostas sociais seja trabalhar mais consequentemente, e sob os novos enfoques acima citados, a questão da prevenção secundária.
     É  preciso efetivar a substituição da atitude modeladora por uma atitude emancipadora nas práticas educativas, deixando de ser detentor do saber e passar a ser mediador para o saber.  Pensar qual o contexto mais favorável à simetria entre educador e educando, ao efetivo compartilhamento de problemáticas e à criatividade individual e comunitária na busca de soluções, e escolhê-los como estratégia frente a outros mais facilmente modeladores.
    As ações que, direta ou indiretamente, a Coordenação Nacional de DST/ Aids sustenta têm, em grande medida, privilegiado o recurso ao lúdico, ao erotismo e à problematização das diversas situações cotidianas nas quais o problema da vulnerabilidade à infecção se manifesta e este parece ser um dos segredos dos êxitos alcançados no campo da prevenção no Brasil.


PROF. ADRIANA ARAÚJO DE SOUZA LASKOWSKI.

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