segunda-feira, 23 de maio de 2011

RESUMO: OS LIMITES DO CORPO SEXUADO: DIVERSIDADE E REPRESENTAÇÃO SOCIAL



Quando analisamos a evolução humana, percebemos que esta diz respeito apenas em alguns setores, pois esta evolução contradiz-se com um mundo cheio de violência, de desigualdade, discriminação, sobretudo das mulheres, em todos os setores da vida. Segundo Michel Foucault (1971), faz-se necessários uma metodologia científica que questione o que aparece definitivamente estabelecido, por exemplo, a evolução secular do progresso da civilização até a definição do humano em termos de sexo e sexualidade.
Nos discursos religioso, científico, filosófico ou literário, a ideia dos corpos sexuados “naturalmente” constituídos sempre de forma assimétrica em homens e mulheres, estão embasados nas pedagogias sociais, as quais ensinam a ser mulher ou homem de acordo com certos pressupostos e indicam comportamentos adequados para que haja a confluência entre corpo biológico, desejo, práticas sexuais e lugar/função social, corpos inteligíveis – normais – na trama das relações sociais.
Em 1949, Simone de Beauvoir perguntava: Mas afinal, o que é uma mulher?, abalando a partir de então a evidência maior de corpo sexuado pré-existente à sua inserção no cultural, pois como afirma esta autora, “não se nasce mulher, [alguém] se torna mulher”. Considerando o corpo sexuado como uma construção social e adquirindo uma visibilidade a partir desta pergunta de De Beauvoir (1966), os feminismos contemporâneos deixam claro que não basta ter uma genitália específica para ser mulher ou homem, desarticulando assim, a última certeza da ciência e da biologia que viam a sexualidade apenas do ponto morfológico.
Deste modo, para que a inteligibilidade cultural do humano seja admitida e adquira foros de “natureza humana”, surgiram criticas quanto a necessidade de coerência do sexo, desejo e sexualidade. Quando nos atemos a essa questão da “natureza humana” temos que no estudo das particularidades do corpo biológico, existe uma coerência entre sexo e sexualidade, isto é a inteligibilidade cultural do humano em sociedades onde o sexo é vetor de identidade, onde a genitália, torna-se causa de uma sexualidade paradigmática, da heterossexualidade reprodutiva, cujo ônus recai, principalmente, sobre as mulheres.
É devido a essa divisão sexual binária assimétrica e hierarquizada, que a ausência das mulheres como sujeitos políticos nos discursos da história, da filosofia – eixos do saber sobre o humano – não era sequer notada, até a eclosão dos feminismos contemporâneos.
Na perspectiva misógina em que se pensa e exprime o corpo feminino, a menstruação ganha espaço nos mais variados discursos e culturas, uma vez que é diretamente relacionada a posição social da mulher, sendo que a sua caracterização vai desde algo sujo ou doentio, que exclui as mulheres de certas atividades até como uma função natural do corpo, representada negativamente no social já que seria o signo do fracasso da procriação, da função primordial atribuída às mulheres, da disciplina social que as atrela a seus corpos, representada constantemente pela mídia e por um conjunto de pedagogias sociais – educação, religião, tradições, ciência, televisão, cinema. São as tecnologias de gênero .
Em 1970 esta representação do feminino delimitado a seus corpos, é denunciada pelo feminismo, onde a diferença entre mulheres e homens, passa então a ser percebida como criação contínua, denominada de “mecanismos de diferenciação” por Nicole Claude Mathieu (1991), a qual vai muito além do aparelho genital, pois todo um construto cultural se desdobra a partir de sua instituição para estabelecer uma divisão de trabalho e de poder social, propícia ao masculino. No entanto, é por meio de uma disciplina social, de pedagogias e tecnologias sociais é que a diferença binária, revela seu caráter construído: mulher é um sexo “frágil”, irracional, intuitivo, dependente, “natural”, em oposição ao “cultural” do masculino. Faz parte ainda dos adjetivos atribuídos as mulheres à procriação como destino social, criando assim uma serie de deveres, obrigações, controles, limites, exclusões sociais domésticos estabelecidos, instituindo seu sexo social, sendo que cabe as mulheres que buscam ultrapassar os limites sociais estabelecidos o título de excluídas e rejeitadas, solteironas, aberrações.
Em 1970 as feministas criaram a categoria “gênero” a fim de explicitar esta disjunção entre o sexo biológico e as tarefas/importância que lhes são atribuídas, de forma variada e arbitrária, segundo as vestimentas culturais. O termo gênero passou a ser utilizada em um primeiro momento de forma eficaz sendo incorporado na linguagem acadêmica ou comum, como sinônimo apenas de “mulher”, ou no melhor dos casos, como uma construção “relacional” que diz respeito a mulheres e homens.
Segundo esta temática Judith Butler (1990) concebe o gênero como uma categoria flutuante, capaz de determinar comportamentos sociais, podendo determinar o sexo biológico no aparato cultural que designa importância, funções e tarefas de forma binária, pois é diante das práticas e repetições de hábitos e costumes presentes em uma divisão de tarefas e lazer desiguais que caracteriza uma menina e um menino, sendo porem, o poder auferido pelo sexo masculino, detentor do prestígio e do saber social. Deste modo, as representações sociais binarias excluíam mulheres dos cargos de chefia uma vez que não tinham por base a capacidade, o intelecto ou as potencialidades individuais.
De acordo com Adrienne Rich (1981) a “heterossexualidade compulsória” refere-se a uma representação social inferiorizada das mulheres e, sobretudo, de sua definição enquanto gênero feminino, tendo as pedagogias e tecnologias sociais como ferramentas que implementam tais paradigmas enquanto decorrentes da “natureza humana”.
Existe ainda um tipo de violência que sem distinção de idade ou raça ou estilo corporal e agride não só os corpos, mas também a integridade física e mental das mulheres: o estupro.
Atualmente o que se discute é a “conquista” das mulheres ao longo dos tempos, mas o que se percebe no estudo do contexto social da mulher é a presença da violência nos diferentes países, a qual vai desde a agressão psicológica a física se contrapõe ao ideário feminista exibidos pela mídia.
Neste contexto, é preciso refletir sobre as tradições presentes nos diferentes ambientes sociais e as necessidades de mudanças vigentes para o desenvolvimento de um mundo globalizado e humanitário que permitam a execução dos direitos humanos em prol de todos principalmente das mulheres.
PROF. ADRIANA ARAÚJO DE SOUZA LASKOWSKI.


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